A igreja do Diabo é um conto do Machado de Assis que faz parte do livro Histórias Sem Data, publicado originalmente em 1884 pela Editora Gamier.

O conto é curto, de apenas 6 páginas e trata-se de uma comédia com argumento filosófico.

O Diabo resolve que fundará uma igreja e instituirá uma doutrina diametralmente oposta ao cristianismo, judaísmo e até ao islamismo. Arrogante e presunçoso ele procura o próprio Deus e anuncia que deixará de ser um anônimo incentivador do pecado para se tornar um líder religioso e que com isso finalmente derrubará o Onipotente. Deus, paciente diz a ele que o faça então. O Diabo por sua vez, convencido de que seu plano não tem nenhum furo e crédulo apostador de seu sucesso certo, dá início aos seus planos. Elabora uma doutrina, filosofa sobre ela, institui-a como regra, convoca os homens, arrebanha um número considerável de seguidores e se estabelece. O que ele não contava, é com um elemento contraditório: o ser humano. Sua empreitada torna-se um divertido desastre de proporções apoteóticas.

Os personagens Deus e o Diabo tem suas próprias personalidades. O primeiro é paciente e paternal: misericordioso. O segundo é arrogante e presunçoso, digno de pena. A narrativa é veloz e os diálogos divertidos, Machado de Assis explora rapidamente as investidas e os resultados de um diabo que se acha um gênio, mas se descobre um trapalhão. Ainda o personagem coadjuvante abstrato, o homem, é muito divertido e é o responsável pelo tempero do desenvolvimento.

A ideia central de uma doutrina do pecado, a princípio parece finalmente uma elaborada estratégia, madura e consistente, mas ao deparar-se com o elemento humano torna-se hilária: o homem, comprometido com a traição acaba por ser fiel às escondidas; instruído a ser avarento, ele faz caridade em segredo. Nessas entre outras contradições, o Diabo acaba por descobrir que o homem não peca por prazer niilista, mas por confusão mental e que busca o melhor sem saber o que é de fato o melhor.

O argumento do autor nesta comédia é sensacional pois cria identidade com o leitor: é reconhecível por verossimilhança, é retórica impecável como segundo nível de leitura. Muito depõe sobre a humanidade e sobre a realidade.

A intenção do escritor de abordar a natureza humana em relação à ordem cósmica e sua situação na vida, foi de fato alcançada com sucesso: ele intenta isso e o faz.

Para quem tiver interesse deixei um link para download da versão em PDF aqui.